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De como fui candidato à Academia




Do livro As Dobras do Tempo


Fui convidado, duas vezes, por alguns amigos, para me candidatar a uma vaga na Academia Pernambucana de Letras. Fiz ver aos meus amigos acadêmicos que eu vivia muito ocupado, envolvido com minhas pesquisas, conseguindo, assim, uma desculpa honesta para não assumir outras novas preocupações.

 

Aconteceu que Waldemar Valente. exemplo de cientista social, autor de excelentes trabalhos na área de Antropologia, meu mestre que muito me incentivou durante mais de vinte anos em que trabalhamos juntos na Fundação Joaquim Nabuco. se encantou na Eternidade. E os amigos acadêmicos, sabedores da minha profunda admiração e respeito por seu trabalho, voltaram à carga, convidando-me para sucedê-lo na Casa de Carneiro Vilela onde, dentro de minhas limitações, poderia ser, pelo menos, uma sombra de sua continuação.

 

A princípio, fiquei sem saber se tinha ou não respaldo intelectual para assumir tamanha responsabilidade. Mas o convite me encheu de euforia porque era a maneira de prestar uma homenagem ao Mestre, dando continuidade ao seu trabalho, principalmente na área da Antropologia Social. E terminei aceitando o convite, com a condição de não pedir voto a ninguém, não por uma questão de orgulho mas por respeito aos imortais, porque sempre acreditei que os acadêmicos eram pessoas inteligentes, sabiam onde tinham o nariz e pedir-lhes o voto seria cercear o livre-arbitrío, o direito de escolha de cada um deles.

 

Que fiz eu? Mandei a todos os imortais uma carta comunicando minha candidatura, o meu curriculum vitae, bem como o meu último livro publicado. Só. Se os acadêmicos, depois de julgarem o meu passado intelectual, aprovassem meu nome, tudo bem. Eu teria, então, a oportunidade de, com muito orgulho, suceder ao meu Mestre e amigo na casa que contou com a participação de Gilberto Freyre, Mauro Mota. Nilo Pereira, Gilberto Osório de Andrade, Pereira da Costa e tantos outros que, no passado e no presente, souberam honrar a nossa Academia Pernambucana de Letras.

 

No dia da eleição, consegui apenas dez votos de dez acadêmicos que acreditaram no que fiz durante toda a minha vida dedicada à literatura e ao folclore.

Quero agradecer aos dez acadêmicos que votaram em mim. A todas as pessoas que me telefonaram e me visitaram. hipotecando solidariedade. Quero agradecer, de todo coração, ao poeta, escritor e sociólogo Sebastião Vila Nova pela atitude que tomou desistindo de sua candidatura quando soube que eu também era candidato, o que, para mim, constituiu uma vitória de ordem sentimental.

 

Parabenizo o meu opositor - o médico, teatrólogo e escritor Reinaldo Oliveira - filho de um grande amigo meu que foi Valdemar de Oliveira e de dona Diná Oliveira, a atriz nacionalmente consagrada, a Sã Nana insubstituível no desempenho de "Um sábado ern 30", de Luís Marinho, e minha ex-companheira de trabalho na Delegacia do Ministério da Educação e Cultura. Que Reinaldo de Oliveira sinta nos seus ombros o peso da responsabilidade de ser, na Academia Pernambucana de Letras, o sucessor de Waldemar Valente, o grande cientista social, professor e escritor que tanto honrou Pernambuco e o Brasil.

 

Jamais serei candidato a nenhuma outra vaga em nossa Academia, à qual rendo as minhas homenagens. Mas essa grande mágoa me acompanhará até a Eternidade.

 

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