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Morreu Costinha




Recebi de Reinaldo de Oliveira Sobrinho, escritor paraibano, o recorte de um artigo de sua autoria, "Rabiscos de um aprendiz de província", no qual tece interessante comentário sobre o riso, porque rir também é preciso. Diz o articulista que "o riso, na sua essência, é uma expressão íntima de prazer, cujas causas até a gora a própria ciência não conseguiu explicar". E cita Rabelais, proclamando aos quatro cantos do mundo que o riso é agora próprio do homem. Mostra que Platão foi quem primeiro elaborou uma teoria sobre o riso, "um misto de alegria e dor". Passa, em seguida, a comentar a decadência do riso: "os mais famosos palhaços de Paris - segundo leu numa revista - já confessaram-se incapazes de provocar o riso em seus espectadores" e, simplesmente, pelo estado de um publico tenso e esgotado, que não mais se sensibiliza com as até envolventes explosões de alegria".

 

E a crise do riso (não no sentido econômico da palavra crise e nem por sua participação na locução "sofrer uma crise de riso", mas na sua ausência ) não é assunto novo. O romancista Eça de Queiroz, já no seu tempo, constatou essa crise quando escreveu: "Já ninguém ri . Quase ninguém mesmo sorri, porque o que resta do antigo sorriso, fino e vivo, tão celebrado pelos poetas do século XVIII é apenas um desfranzir lento e regelado de lábios. Ninguém ri e ninguém quer rir. O rir de Lutero que se ouvia no fim das ruas de Worms, o rir do grande Leonardo da Vinci, que fazia tremer os mármores, seriam hoje apenas ato de irreverência".

 

E por que o riso está desaparecendo da face da Terra? A resposta ainda é do autor de Os Maias: "O riso acabou porque a humanidade entristeceu. E entristeceu por causa de sua imensa civilização. Quanto mais uma sociedade é culta, mais sua face é triste". É bom lembrar que Eça de Queiroz viveu no século passado, quando o mundo era outro, bem diferente do mundo em que vivemos. E se o escritor estivesse vivendo nos nossos dias, qual seria sua reação, sua opinião sobre o riso?

 

Mas a pergunta continua martelando na memória de todos nós: por que é que o riso está desaparecendo da face da Terra? Acredito que o que está acabando com a alegria de viver, com a satisfação das pessoas é essa epidemia de "stress", de ansiedade, é a quantidade enorme dos mais variados problemas e das dificuldades que envolvem o homem contemporâneo. O europeu ri muito pouco, notadamente o inglês que é duro na arte de rir. Carlitos fez o americano e o resto do mundo rir sem dizer uma só palavra. No Brasil o número de humoristas é até considerável se pensarmos num José Vasconcelos, num Walter d’Ávila, num Costinha, num Tom Cavalcanti, num Nelson da Tapetinga, para não citar muitos. Com eles o povo ainda esboça um riso que, às vezes, não passa de um mero sorriso.

 

Essas considerações sobre o riso vieram à tona com a morte de Costinha, nossa! Quando a televisão noticiou seu falecimento eu sofri um golpe, eu fiquei triste, porque ele era um dos poucos cômicos que me faziam rir. Logo em seguida, a emissora, numa homenagem mais que justa, mostrou a imagem de Costinha e, imediatamente, ri. Confesso que essa foi a única vez, em toda a minha vida que ri e fiquei triste ao mesmo tempo, de uma só vez. Como Walter d’Ávila e poucos outros, Costinha era um dos poucos cômicos que me faziam rir, sem que fosse necessário dizer uma só palavra, como é o caso de Carlitos e, atualmente, o de Mr. Beam.

 

Como assim? É que para ser um bom cômico é preciso antes de tudo ter uma cara desavergonhada e muita presença de espírito. Uma piada contada por Costinha, com seus trejeitos e sua cara engraçada tinha o sabor muito diferente da mesma piada contada por uma pessoa que não tivesse tais predicados. Há cômicos que não têm a fisionomia cômica. Bastava Costinha aparecer. Sua presença já era motivo para rir.

 

Costinha morreu e eu tenho a certeza absoluta de que o Brasil ficou mais triste. Quero agradecer a Lírio Mário Costa (este era seu nome próprio, pouco comum), pelas inúmeras vezes que me fez rir, que me fez esquecer os meus problemas. E apresentar à dona Amor Lauretti Costa, sua esposa os meus sentidos pêsames.

 

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