Não conheço bem a geografia pernambucana, onde estão suas cidades em relação ao Recife, exceto Caruaru e Garanhuns, além de Goiana e nada sei do seu hinterland. Lembro, vagamente, que já estive em Lagoa dos Gatos, que meu amigo Everaldo Porciúncula transformou, com seu amor/humor de filho da terra, em Cat lake city, e Olinda, bem como outras cidades, de passagem, pelas estradas.
Creio porém, que quem nasce num lugar com o nome de Bom Jardim e chega a ser prefeito de outra com o topônimo de Orobó, só pode ser uma pessoa predestinada à pesquisa e ao estudo do folclore, ciência que não vem pela erudição, senão pela cultura popular - essa sim, é que nos leva aos conhecimentos eruditos sobre os fenômenos antropo-sociológicos, registros e análise dos mesmos.
Creio que é pelo popular que se chega ao erudito, porque observo que toda cultura emana do povo. O que a cultura de gabinete registra e desenvolve, é comparável a um menino criado em apartamento, sem comprovação tátil, gustativa, olfativa, experimental da natureza. A sedimentação cultural nutre-se de energia oriunda das raízes da terra. Não se obtém sabor das coisas, sem transitar pela sua vivenciação.
Partindo desta premissa, refiro-me ao pesquisador e mestre Mário Souto Maior, 80 anos de idade, porém ainda um menino, contando e ouvindo histórias infantis como no copiar das fazendas coloniais se ouvia das mucamas contadoras de estórias de então.
No ano passado - 1999 - completou-se 30 anos de uma laboriosa atividade intelectual, na pesquisa dos costumes, dizeres, fazeres e comportamentos virtuais, do nosso povo através de obras como seus Dicionários da Cachaça, do Palavrão, dos Folcloristas Brasileiros, e de registros das crendices, rezas, faz mal e mais outros tantos assuntos, com a sabedoria que justifica a agilidade que levou ao "podium" de uma carreira de estudioso e fixador de costumes populares de primeiro time.
O jovem Mário Souto Maior merece o nicho em que sua obra tem sido colocoda no Brasil. Sua majestade cultural, pois o conheço bem, corará de tão humilde e franciscana simplicidade, ao ler estas mal traçadas linhas.
SILVEIRA, Celso. Mário Souto Maior - 30 anos de pesquisa. Comentário feito em sessão de Assembléia Geral do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, por ocasião da aprovação, por humanidade, de seu nome como sócio-correspondente. Natal, 24/3/2000.