O livro de Mário Souto Maior – Nomes próprios pouco comuns – contém uma onomástica cuidadosamente organizada de nomes os mais estapafúrdios possíveis. Tem prefácio de Carlos Drummond de Andrade, orelha de Gladstone Vieira Belo, além de sugestiva capa do jovem pintor Luís Pessoa.
A obra, embora não analise o porquê dos nomes, (e isto seria motivo de outro estudo), traz uma séria advertência: as criaturas devem escolher seus próprios nomes ... E as citações justificativas: "Por que não imitar a sabedoria milenar dos cora – tribo mexicana que vive na Serra Madre Ocidental – que só permite batizar os descendentes após os quinze anos de idade, numa solenidade que é iniciada pelo sacerdote com a pergunta: - Como você quer se chamar, filho?" A seguir vem a do psicólogo francês Jean Claude: "milhões e milhões de pessoas carregam pela vida afora o peso de um prenome que absolutamente não condiz com sua formação física e espiritual e isto é capaz de afetar seriamente todo o mecanismo psíquico.
Vem nossa indagação (indagação feita anos atrás, quando publicamos trabalho de Salomão Jaufim, na Revista Equipe, contendo uma lista de nomes incomuns e que fora aproveitada por M.S.M.), que dramas sofrem pessoas que ao responderem o nome diz: Abrilina Décima Nona Caçapavana Piratininga de Almeida, ou Adegesto Pataca, Antônio Veado Prematuro, Barrigudinha Seleida, Carlos Himmen, Celeste Batata, Colapso Cardíaco da Silva, Cólica de Jesus, Dinossauro Carlos da Silva Rios, Dourado Peitudo, Eter Sulfúrico Amazonino Rios, Eustácio Ponta Fina Amolador da Ponta Grossa, Eva Gina Melo, Gilete Queiroga de Castro, Horácio Treme Terra, Gueythysymayny Silva Brasileiro, Hegível Inelegível da Silva, Inocêncio Coitadinho Sossegado de Oliveira, Jacinto Filho, Maria Nazaré Gordura de Baixo ou Newton Maribondo Vinagre? Seguem-se temperos mais picantes do que estes, fazendo rir, quando lemos e não pensamos, ou fazendo chorar se raciocinamos que não se trata de brincadeira, mas de nomes de pessoas, de crianças que têm de responder à folha de presença nas escolas, homens e mulheres que são forçados a dizer o nome para documentos, nos quais não vale dizer o apelido.
É muito sério, seríssimo mesmo, o trabalho de Mário Souto Maior, digno da capacidade científica e seriedade que o autor emprega nos seus empreendimentos, como foi por exemplo o Dicionário Folclórico da Cachaça.
Somente numa coisa não concordamos com M.S.M., é quando ele diz: "Não só as pessoas são mal denominadas: temos, como exemplo, algumas ruas do Recife batizadas pelo povo ou pela municipalidade de maneira tal que logradouros e seus nomes não se casam. Qual o prazer que se tem em morar na Rua dos Prazeres? Por que Rua do Príncipe, Rua do Cupim? As primeiras, não sabemos se provêm de fatos históricos, de santos ou simplesmente da sabedoria popular, mas a Rua do Cupim, pode parecer uma advertência para que lá não se atreva a residir nenhum cara de pau, porém não o é, trata-se de homenagem feita ao famoso Clube do Cupim, fundado, a exemplo da Sociedade Brasileira Contra a Escravidão para conceder Liberdade aos nossos irmãos de cor. Depois, Mestre Mário Souto Maior, é bom lembrar que as ruas não sofrem de complexo, por esta razão, preferimos ficar ao lado da Evocação do Recife de Manuel Bandeira, sem que isto diminua o extraordinário valor de seu livro.
GALLINDO, Cyl. Nomes Próprios (impróprios). Jornal de Letras, Rio de Janeiro, outubro, 1974